Revista do NEFILLI

Núcleo de Estudos Filológicos, Lingüísticos e Literários – NEFILLI

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CONTO E ENCANTO

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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

FICHAMENTO – RESUMO OU CONTEÚDO: O ofício do filólogo


Profª. Drª. Bárbara de Fátima.


CUNHA, Celso. O ofício do filólogo. In: Sob a pele das palavras. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2004. p.341-359.


I- Etimologia da palavra – Filologia.
1.1    Platão – admirador da palavra, que gosta de falar, bem falante (empregada como adjetivo); amigo do raciocínio, da argumentação, bom locutor (empregada como substantivo). Ele (Platão) aproxima do termo de polylógos – grande falador, tagarela, em oposição ao termo misológos – inimigo dos discursos e dos arrazoados.
1.2    Erastóstenes de Cirene (295?-214? a. C.) – significará “erudito, douto, letrado”. O mesmo termo foi usado por Estrabão e Dionísio de Halicarnasso, assim como entre os latinos Cícero, Suetôpnio e Sêneca.
1.3    Especialistas em crítica textual, os gregos usavam o termo kritikós ou grammatikós.
1.4    Aristóteles – “gosto pela erudição, especialmente literária”.

II- Conceitos:
2.1 Plutarco, Isócrates e Cícero – relação da filologia com os estudos literários de caráter erudito. Enquanto Sêneca conceitua filologia como sendo “a explicação, o comentário de textos dos escritores”.
2.2 Filólogos alexandrinos (séculos III e II a. C.) – a disciplina Filologia tornou-se um trabalho fundamental para a preservação do patrimônio literário da humanidade.

III- Primeiros fil´logos:
3.1 Zenódoto de Éfeso (340?-265? a. C.) – primeiro bibliotecário  e editor de textos épicos e líricos – utilizou processos censuráveis (na Antiguidade).
3.2 Calímaco de Cirene (310?-240? a. C.) – a quem se deve o primeiro catálogo dos escritores gregos.
3.3    Eratóstenes – possuidor de um saber enciclopédico.
3.4  Aristofánes de Bizâncio (258?-180? a. C.) – e o seu discípulo Aristarco de Samotrácia (216?-144? a. C.) com eles a filologia helenística chega ao ápice.
3.4.1 Aristofánes – codificou a poesia grega;foi editor de poemas homéricos e profundo comentador de várias obras; utilizou-se de vários sinais críticos nas suas edições da Ilíada e da Odisséia.

IV- Oposição entre filologia x filosofia.
4.1 Platão – o filósofo é também um filólogo (um homem inclinado a argumentar)
-  amor às palavras – filologia.
-  Amor à sabedoria pura – filosofia.
4.2 Sêneca – lamenta haver a filosofia do seu tempo degenerado em filologia – julgamento pejorativo.
4.3 Cícero – culto das letras que se harmonizavam na criação e interpretação. Homero era para ele o símbolo do filólogo.
- Homem – nobre por nascimento ou posição sem atingir a condição de filólogo.
4.4 Paul Valéry -  filologia = discurso literário.
4.5 Karl Vitti – apresenta reflexos no prestígio e no desprestígio da disciplina (filologia)

V- Filologia X Lingüística.
5.1 Anos de 1950 – época do estruturalismo behaviorista. Ataque à Filologia e à Estilística.
5.2 Lingüistas:
5.2.1 Göran Hammarström (sueco).
5.2.2 Helmudt Lüdtke – Em 1959 questiona dentro de sua afirmação: ”Já não seria tempo de escolher: ou a renovação, ou o silêncio?”. Observa-se que o lingüista Helmudt generaliza a profissão de filólogo sob a prática de editores de textos medievais, especialmente os franceses, quando explicam as formas fonéticas menos freqüentes apenas indicando o seu provável étimo latino, sem no entanto observar os fatos lingüísticos documentados nas épocas anteriores ou posteriores.
5.2.3 André Martinet – apresenta a explicação dos fenômenos fonéticos aparentemente isolados dentro do sistema fonológico da língua: modificações que não alteram, que reduzem ou que acrescem o número de unidades distintivas do sistema.
5.2.4 Helmudt – em oposição a  Martinet que não conseguiu explicar a sua classificação sob a ótica do tratado de fonologia diacrônica. Em contraposição, Helmudt apresenta um decálogo sendo considerado um ideal filológico, não plenamente atingido, mas serve para acautelarmos a fidelidade do texto objeto do trabalho editorial.
No decálogo observamos que:
a) o autor encontrou dificuldade em argumentar com estágios sucessivos de uma mesma língua (latim vulgar/francês arcaico).

VI- Ofício do filólogo.
6.1 O editor de textos antigos dispõe apenas de manuscritos apógrafos (raramente autógrafos), todos com seus complexos sistemas grafêmicos, representando, por vezes, simples hábitos pessoais, assistemáticos.
6.2 Exigência para o filólogo:
6.2.1 Construir o sistema filológico do tempo (Sistema completo: com os fonemas e seus alofones).
6.2.2 Penetrar nos meandros da koiné literária.
6.2.3 Dominar seus graus de funcionalidade (evitar de perder-se quando da proliferação polimórfica de geovariantes e cronovariantes).
6.2.4 Reconstruir a língua do seu autor como um sistema em si, a um tempo sincrônico, sintópico, sinstrático e sinfásico.
6.2.5 Observar o seu autor dentro de um panorama que se desenrola em sua amplitude diacrônica, diatópica, diastrática e diafásica.
6.2.6 Uriel Weinrich – conceito de diassistema, de capital importância na crítica de textos.
6.2.7 Celso Cunha procura justificar a aplicação a Ecdótica de outros enfoques da lingüística contemporânea, como: a teoria da variação, os conceitos de norma, de níveis de língua, de registro, de geovariante, de cronovariante. Ele afirma que ao contrário de Hammarströn, a filologia no sentido de crítica textual sempre se beneficiou dos progressos da lingüística, principalmente no tocante à lingüística diacrônica.
6.2.8 Paul Valentin – adverte que “é necessário ser filólogo antes de ser lingüista”.

VII- Autores:
7.1 Saussure – fundador da moderna lingüística estruturalista e também filólogo dos anagramas.
7.2 Gillierón – cartografia lingüística.
7.3 Lachmann – método de crítica textual tipicamente estruturalista.
7.4 G. Paris e L. Pannier – pioneiros da estemática, método de representação genealógica em 1872.
7.5 Schleicher – biologismo com o método de representação genealógica e sua configuração arborescente.
7.6 Pasquali – crítica textual que contém lingüistas: Meillet, Bártoli, Trubetzkoy e Jakobson), escola esta em que a ecdótica, semiótica, lingüística e a teoria literária se interpenetram.
7.7 Gianfranco Contini – vê na interligação de certos princípios da crítica textual com a lingüística a possibilidade de emprego na disciplina de metáforas glotológicas do tipo: estratigrafia ecdótica – estratigrafia lingüística (Paul Aebischer), substância textual – substância lingüística (Hjelmslev), patologia textual – pelo modelo da patologia verbal (Gillierón).
7.8 Michele Barbi – reação legitíma contra o filologismo e o historicismo exagerado.

VIII – Limitações do filólogo.
8.1 O despreparo lingüístico-literário de certos editores de textos do português arcaico e médio.
8.2 O emprego abusivo do adjetivo “crítica” aplicada a edições que não obedecem a nenhum princípio de crítica textual (fato apontado por Jean Roudil e depois por Giuseppe Tavani).
8.3 Segundo Celso Cunha, os métodos estruturais não são capazes de nos trazer este conhecimento completo, porque o estudo das oposições lingüísticas serve, e é necessário, “para definir as instituições lingüísticas nas suas estruturas essenciais, mas é insuficiente para observa-las no seu concreto operar”  (Giacomo Devoto).
8.4 Termos: completo e exaustivo. Para a investigação ninguém chega tarde, os temas de pesquisa não se esgotam jamais. Ramón y Cajal afirma que “há homens esgotados diante dos asuntos”.

IX- Parênteses saussurianos.
9.1 O estado absoluto de língua não sofre alterações, mas por se transformar, a língua, devemos abandonar algumas modificações de pequena importância.
9.2 Na lingüística estática = uma simplificação convencional dos dados.
9.3 Lingüística sincrônica e lingüística diacrônica – posições metodológicas para simplificar a complexidade dos fatos observados.
9.4 A noção de estado de língua é indispensável tanto em lingüística sincrônica como em lingüística diacrônica (estado de língua = é a língua em uso numa época dada sobre um domínio geográfico determinado; interiormente, como um sistema cuja descrição constitui a gramática).

X- Principal autor.
10.1 Giuseppe Francescato – “sincronia de monocronia”. Para ele, a nálise lingüística sincrônica é de caráter puramente descritivo.
10.1.1 A lingüística diacrônica seria a indagação pura e simples dos fatos lingüísticos examinados no espaço e no tempo.
10.1.2 A lingüística histórica – fatores lingüísticos e também fatores culturais, sociais, etnográficos, jurídicos, psicológicos, estilísticos e outros mais.
10.1.3 Para Francescato, não há razão para as incompatibilidades entre o lingüista  e o filólogo porque ambos estão empenhados em procurar o agente das realidades palpitantes da vida através do estudo das grandes línguas de civilização, dos dialetos, dos mais humildes falares, da palavra conservada num texto atual ou remoto, visando a estudar o homem, único agente da história.

XI- Problemas textuais do passado literário.
11.1  Editor de textos – conhecer o modo de produção, de conservação e de difusão das obras no período em que se situa a do autor escolhido.
11.2 Edição crítica reconstrutiva – trabalho de aproximação de um original perdido.
11.3 Estudo dos textos medievais.
11.3.1 São conservados em antologias (cancioneiros).
11.3.2 Trabalho editorial – cuidadoso, por serem essas compilações, o livro medieval.
11.3.3. Conhecer as características de sua articulação e de sua estrutura fundamental – saber das técnicas editoriais da época, do funcionamento dos scriptoria, e da correlação entre os manuscritos = dados codicológicos básicos para as edições críticas de autores individuais.
11.3.4 Segundo Celso Cunha, quanto ao manuscrito contemporâneo dos trovadores que ao incorporar os textos recolhidos da tradição, sofreu uma violenta normalização pelos padrões cultos tradicionais, que neutralizou muitas formas, eliminou a maioria dos efeitos das variáveis inerentes a qualquer língua, que somente uma sistemática análise filológica, precedida de minuciosos estudos scriptológicos e codicológicos. Assim sendo, sobem de ponto a dificuldade e a responsabilidade do trabalho do filólogo na recosntituição de acervos que são inestimáveis riquezas do patrimônio universal.

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