Profª. Drª. Bárbara de Fátima.
AGUILAR, Rafael Cano. A filología como ciencia del texto. In: Introdución al análisis filológico. [s.l.]: Castalia, [199?]. p.13-30.
A expressão análise filológica é de certa forma redundante com relação à Filologia que é uma ciência, cujo âmbito de trabalho são os textos escritos. a análise filológica é a maneira pela qual é possível a análise de textos sejam eles: textos lingüísticos ou textos literários.
Em Grego ou Latim, a Filologia é traduzida como amor às letras e o filólogo, segundo R. Estienne (1539) o amante das letras. Várias são as disciplinas auxiliares da Filologia: Gramática, Rhetórica, Poesia e com as ciências auxiliares: História, , Antiguidade, etc.
A Filologia em sua mais ampla acepção estuda e analisa a cultura e a civilização de um povo através dos documentos escritos por eles deixados. É uma ciência auxiliar da História ou de qualquer outra disciplina a partir do momento que seja necessário o conhecimento pertinente para tal interpretação textual, com um texto confiável e cujo trabalho direcionado à Filologia será o de fixar, reconstruir, criticar, etc. Os textos mais estudados desde as suas origens são os românicos. Com relação à língua, a Filologia une-se à Lingüística com a qual divide uma caminhada de encontros e desencontros.
1.1 Constituição histórica dos deveres filológicos.
As origens da Filologia estão vinculadas ao termo “sagrado”, visto que os textos se figuram em sociedades antigas, sendo considerados verdades imutáveis e sábias. Assegurava-se a Filologia de guardar a língua escrita da corrupção e da destruição, ocasionada pelas mudanças das formas lingüísticas que passaram a ser objetivos da exegese e da interpretação.
A Filologia pode ser dividida em três momentos:
1- Lingüística Hindu (?séculos IV-III a.C. ?) – para explicar os textos religiosos, assim como as correntes filológicas hebréias e árabes. Os gramáticos alexandrinos (século II a. C.), com os poetas gregos, por exemplo Homero, a quem devemos a fundação da civilização européia da Filologia.
2- Idade Média – não se observa o amor pelos textos, nem a necessidade de glossários e comentários. Os estudiosos medievais davam valor aos textos escritos como fontes constantes da sabedoria, mas não como fontes de pesquisa/trabalho filológico, observando-se um estado lingüístico que necessitasse de fixação e explicação.
3- Humanismo Renascentista – está fundamentado na leitura e interpretação dos textos (clássicos, gregos e latinos) e do conhecimento do mundo contido nestes textos. Assim, encontramos Lorenzo Valla, romano que não apenas sistematizou a crítica lingüística dos testos, mas que a aplicou como uma arma para negar, por razões filológicas, qualquer validade da chamada “Doação de Constantino”.
Do Renascimento, propriamente dito, temos a Filologia definida como, não apenas exegese e interpretação dos textos, mas crítica do texto falso ou deturpado. Mas, a Filologia não apenas se limitou ao mundo clássico, grego e latino: Nebrija e Erasmo levaram ou tentaram levar essa nova ciência ao estudo da Bíblia.
1.2 A Filologia nos séculos XIX e XX: direções distintas.
1.2.1 Filologia e história cultural.
No século XX observa-se a definição de Filologia como sendo “a ciência que estuda a linguagem, a literatura e todos os fenômenos de cultura de um povo ou grupo de povos por meio de textos escritos”, como forma de reduzir este imenso campo de estudo a Filologia passa a se utilizar das ciências auxiliares, como por exemplo, a História.
O autor volta a citar a herança do Humanismo renascentista filológico:
1- Filologia Clássica – tal qual hoje é conhecida surgiu no século XVIII ma Alemanha. Muitas vezes, no século XIX sinônima da Filologia, conservando seu interesse pela língua e pelas literaturas grega e latina, como também por suas criações conceituais na Física e na Mitologia, nas suas criações físicas na Arte e Arqueologia.
2- Filologia Hebraica e Árabe – estão mais perto em seus métodos da Filologia Clássica.
3- Filologia do Romantismo Alemão – em suas manifestações no mundo da linguagem (Herder, Schlegel, Humboldt) destacam a estreitas relação entre língua e história geral, em especial a história cultural.
O autor R. Antilla voltou a pensar na Filologia como uma disciplina que estuda a linguagem para penetrar em uma cultura:
1- Decifrar os conteúdos textuais que revelam culturas desconhecidas;
2- situar a língua em seu contexto;
3- Permitir a reconstrução da sociedade;
4- Analisar lingüisticamente através da língua mundial;
5- Compreender mais claramente as mudanças semânticas, etc.
Antilla também descreve as disciplinas Sociolingüística, Lingüística Antropológica, Psicolingüística, etc. como as Filologias Sincrônicas. Nos USA, observamos que a perspectiva da Antropologia Lingüística esteja mais voltada para a sincronia dos textos orais. Já Umberto Eco define a semiologia como “crítica da cultura”, uma filologia renovada.
1.2.2 Filologia e Lingüística.
O autor apresenta as diferenças básicas entre a Filologia e a Lingüística:
FILOLOGIA
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LINGÜÍSTICA
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1- Disciplina histórica;
2- Limita-se ao estudo de apenas uma língua;
3- Surge com a Romanística;
4- Estuda o conhecimento da história política, social, cultural e literária dos povos que falaram ou falam as línguas românicas
5- Início: análise histórica e comparativa, da provençal dos trovadores medievais com o francês F. Raynouard (1816-1921).
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1- Ciência natural;
2- Ocupa-se do maior número possível de línguas.
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Para muitos, a Filologia passou a ser sinônimo de lingüística histórico-comparativa. O próprio Saussure que separa a Filologia da Lingüística termina por igualar a filologia comparativa ou gramática comparada.
FILOLOGIA
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LINGÜÍSTICA
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1- Serve à Lingüística no sentido de caráter histórico;
2- Obtém e classifica os dados;
3- Analista reconstrutiva de textos.
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1- Dar à Filologia as imprescindíveis referências que ajudem a fechar e diferenciar manuscritos, imaginar arquétipos, vincular zonas geográficas ou âmbitos cultuais.
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1.2.3 Filologia e Literatura.
O autor não acredita que se possa vincular a Filologia à ciência nem à história da literatura. Assim como não poderá estar vinculada somente aos textos literários. Não há uma necessidade entre Filologia e texto literário. Mas, desde o século XIX, já se encontra a relação da Filologia com os textos literários. Algumas correntes ou especialidades lingüísticas apresentam não somente vínculos de investigações em textos escritos, mas também com o texto literário.
Segundo E. R. Curtins, a Filologia se distingue da História da Literatura, da Literatura Comparada e da Ciência da Literatura por ser uma técnica básica para todo o estudo sobre o texto literário, mas não o engloba.
Por ser uma disciplina que se ocupa da análise de textos literários, a Filologia acaba tendo como principal missão de reconstituir os mesmos textos que investiga, chegando assim a identificar-se com a edição (crítica) de textos, que envolve o estabelecimento de textos (reconstituição da forma autêntica, restauração por meio de exame comparativo de diversas versões), na interpretação e colocação de notas e comentários (gramaticais, históricos, literários, geográficos, etnográficos, etc), assim como apresentação de um glossário, tabelas, etc.
No século XIX utilizou-se o termo Ecdótica, mas só em 1926 foi estabelecido pelo francês Dom Henri Quentin. Este, estudo se ocupa das questões materiais, formais e gráficas que a análise filológica desconsidera.
Quando a Filologia é definida como a análise crítica de textos, não podemos dissocia-la da Lingüística , porque na análise lingüística verificaremos: a classificação das variantes textuais mais antigas, determina o âmbito dialetal originário, a época provável do texto primitivo, etc. Surgiu, assim, o método de Lachmann que apresenta a análise das formas lingüísticas variantes que seguem a análise dos textos variantes: em seus próprios termos, os processos de exame e seleção, mostra a recensio dos textos existentes, constituindo, assim, uma atividade fundamentalmente lingüística. O método de Lachmann consiste em encontrar e reconstituir um arquétipo, o texto original, através da análise das cópias, cuja genética se mostra por meio de uma árvore genealógica (stemma codicum).
Outro mecanismo que os lingüistas tentaram estabelecer, o indo-europeu primitivo, fonte de todas as línguas da família presentes na árvore genealógica de Schleicher. Também temos, segundo o autor, o método francês Bédier, que estuda a história de cada língua em relação com a história de quem as falam, este método concentra-se na edição de um dos manuscritos ou variantes e onde se faz as correções que se considerem oportunas. São chamadas “edições sinópticas”.
1.3 Análise Filológica e Lingüística Atual.
O autor define a análise filológica como a análise da língua para algo mais, podendo ser a inserção deste texto dentro da história cultural de uma comunidade ou a decisão sobre aspectos internos da história deste texto. O que caracteriza a análise filológica: sua perspectiva é sempre filológica, estuda a língua dos textos como reflexo e manifestação de um dado momento cultural de um povo. Já a análise lingüístico-filológica (análise realizada sob a perspectiva do filólogo) é sempre global: desde os aspectos fonéticos, passando por todos os aspectos gramaticais e léxicos, o pesquisador deverá se ater aos mínimos detalhes. Para o filólogo, um texto sempre remete a outros textos, para explicar a evolução da língua ou para recorrer a eles para se entender o texto que está sendo analisado.
Observamos na análise da linguagem que a Filologia entra em contato com as modernas teorias lingüísticas, como a teoria da enunciação ou com a lingüística do texto (LT). A noção de texto na LT não é bem tradicional, está mais ligada à atividade comunicativa e não se limita ao texto escrito, ela tem fenômenos específicos e regras próprias de nível textual. Já a dimensão histórica, característica básica da Filologia não está presente nestas correntes lingüísticas atuais, assim elas invocam a Retórica ou a Estilística como antecedentes. O que a Filologia e as Teorias Lingüísticas têm em comum é a inserção do texto em seus contextos sócio-verbais, contextos estes cujos objetivos teóricos e metodológicos estão A Filologia favorece estas teorias com suas formas interpretativa e explicativa.presentes em ambas.
O autor apresenta o termo “comentário” do texto utilizado para o estudo da literatura e foi introduzido na Espanha, por F. Lázaro y E. Correa em 1957. O termo “comentário” é utilizado na análise lingüística do texto e os de caráter histórico com o título “comentários filológicos-lingüísticos” do texto.
Características dos comentários dos textos:
1- É uma atividade complementar, de caráter prático;
2- Mostra-se de forma direta os fenômenos evolutivos, da história da língua;
3- O texto , neste caso, não é apenas um instrumento auxiliar cuja função é somente apresentar em sua forma primária os fenômenos textuais ocorridos em uma situação real;
4- O texto é visto como uma unidade lingüística dotado de sentido próprio, com diversos graus de coerência e coesão e em uma determinada situação: unidade que vai explicar os elementos, relações, etc;
5- O texto na Lingüística Histórica será um pretexto para oferecer uma série de mudanças na língua: fonéticos, morfossintáticos, léxicos, etc.
Segundo o autor, o “comentário” (filológico) – lingüístico acadêmico se limita como conclusão de uma busca de dados, a época aproximada de um texto com dados que se pode documentar, mas isto não é a única tarefa que um filólogo pode desempenhar com um texto, mas é um bom início na aprendizagem.
O pesquisador irá, através do texto, além do acúmulo de dados, penetrar na estrutura total e na sua organização sintática e léxica de seu conteúdo, partindo da organização macrotextual para a microtextual. Na sintaxe do período no qual está inserido o texto, estuda-se as orações e com as relações léxicas textuais, observando cada palavra em particular, teremos o tipo de discurso e de enunciado lingüístico.
A seleção dos textos para análise exigirá a forma da gramática histórica, para aqueles que apresentam maior intensidade das mudanças, nos fenômenos lingüísticos dos textos breves de todas as épocas. Também não é fácil esta seleção. Devemos observar a forma externa dos textos: o fac-símile ou a transcrição paleográfica (com a pontuação original). Afinal, é o contato autêntico do filólogo com o texto real, físico.
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