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CONTO E ENCANTO

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

RESENHA: Abordagem semiótica histórico-social em O QUE RESTA DOS MORTOS


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ALVES, Políbio. O que resta dos mortos. João Pessoa: A União Companhia Editora, 1983.
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Profª. Drª. Bárbara de Fátima.

                                      
       O trabalho literário que ora analisamos, ou seja, O que resta dos mortos, publicado em 1983 de autoria do poeta paraibano Políbio Alves, um escritor moderno cuja visão é extremamente voltada para a semiótica histórico-social através de fatores psicológicos. Através de suas idéias, observamos o uso constante de valores do passado que não se perderam, mas que se apresentam tão atuais, porque com eles o autor clama, enfatiza e questiona o tempo todo.  É isto o que a sociabilidade do autor nos mostra através de seus personagens reais, fictícios e de funções metafóricas. Em contrapartida, temos a sua visão histórica da política, na qual teve participação efetiva e, que se nos retrata com fidelidade na historiografia de O que resta dos mortos (1983), retrato fiel das emoções vividas e sentidas por um idealismo pessoal. Neste texto, segundo a visão do poeta, transcendeu para ele mesmo os limites os quais foram concebidos para a descrição histórico-sócio-política de um espaço físico, dando condições ao autor de fazer uso do que Orlandi (1984) descreve como polissemia: “É o processo que, na linguagem permite a criatividade. É atestação entre o homem e o mundo”.
       Como situação de espaço temos o Mangue, o Rio Sanhauá, na periferia de João Pessoa, de tempo temos a época da repressão política brasileira e também a época de meninice do autor, onde ele narra tudo usando freqüentemente o fluxo da consciência. A qualidade principal que se nos apresenta é o surgimento de um novo momento na História, observada nas qualidades físicas do Bairro Varadouro com a heterogenia de seus habitantes, psíquicas nas reminiscências do autor em relação à sua infância e a social com o comportamento moral e religioso segundo os seus habitantes. Como elementos humanos temos: os personagens políticos e opressores de um lado e do outro, os perseguidos (personagens oprimidos). Nos elementos humanos temos: Tia Corina, a mãe do narrador, o próprio narrador, as mulheres da zona
Do mangue, o Mexicano, os homens de plumas brancas, José Paulo (o Paulistinha), Lulu e Dona Mafalda, Zefa Cotó, Zefinha da Jurema, etc.
       Quanto aos costumes, os contos retratam a época vivida pelo autor (narrador) sob a ótica de uma criança. O autor descreve as profissões dos seus personagens, onde moravam, suas diversões, o que usavam, de maneira fiel à realidade: a doença do Zezinho, a obrigação de comer quiabo, tortura física e psicológica na ditadura, os meninos do lixo, os pescadores da noite de cerração, as rádiovitrolas da Rua Maciel Pinheiro, etc. Quanto à religião, temos o terreiro de Tia Corina (banho de ervas), a Igreja do Galo (na Ilha do Bispo), Capela de São Miguel das Almas, as cantigas religiosas dos pescadores. Quanto aos lugares temos o Hotel Globo, a Fábrica de cimento, o Casarão das Almas, o Bar do Totonho, o Varadouro, o Ponto de Cem Réis, os Bares da Estação Rodoviária, o Rio Sanhauá, etc.
       Outro ponto da historiografia do autor, é exatamente o período de repressão quando, segundo o poeta Irismar Di Lyra no seu texto A Poética e a Temática publicado no Jornal Correio da Paraíba, nos afirma que o autor “foi preso político, na época da ditadura e teve o privilégio de vivenciar o Calabouço, tão decantado por Chico Buarque em sua canção”.
       É o próprio Políbio, em seu livro de contos O que resta dos mortos, que nos revela o cerne daquela situação política vigente: “...nas casas se encostando uma na outra à beira do Sanhauá. Ali na cidade baixa, esse silêncio bordado de sal e cimento, tornou-se abrigo espionado – os besouros. Foi na Ponte do Baralho, durante o Estado Novo que eles se apresentaram. [...] Homens de plumas brancas na cabeça chegam à Capela da cidade”.
       Como podemos observar, a manipulação semiótica histórico-social do autor é muito complexa porque sua obra literária está cheia de nuances no tempo e na História. Seu principal objetivo é mostrar ao leitor um tipo de narrativa a qual permite-lhe questionar o histórico, o social e o psicológico para entendermos a mágica de sua narrativa e o seu ambiente, tudo descrito em uma linguagem profundamente caracterizada pelas emoções.
        Livro de densidade teórica e histórica que vale a pena ser conferido, pois revela as particularidades de um período histórico-social de um país em suas reais dimensões. Por tudo isso, e pelo grande prazer oferecido por seu estilo elegante e agradável, é muito bem-vindo e deve ser lido.

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